Segurança de alimentos não é segurança alimentar: por que essa confusão enfraquece a área de Qualidade

segurança de alimentos e segurança alimentar não são só palavras diferentes – são mundos diferentes.

Quando o assunto é segurança de alimentos, ainda é muito comum ouvir profissionais, fornecedores e até gestores usando o termo errado: “segurança alimentar”. À primeira vista, parece apenas um detalhe de vocabulário. Mas, na prática, essa confusão atrapalha a comunicação com a diretoria, enfraquece a imagem da área de Qualidade e até prejudica a forma como a empresa investe em estrutura e Boas Práticas.

Na minha experiência com indústrias de alimentos, o que vejo é simples: quem não domina essa diferença tende a tratar segurança de alimentos como algo “bonito de falar”, e não como um pilar técnico e estratégico do negócio.

Segurança de alimentos x segurança alimentar: qual é a diferença?

Antes de falar de estratégia e autoridade, precisamos deixar os conceitos muito claros.

O que é segurança de alimentos?

Segurança de alimentos (food safety) é a área que garante que o alimento:

  • não vai causar danos ao consumidor,
  • esteja livre de perigos físicos, químicos e biológicos em níveis inaceitáveis,
  • seja produzido dentro de Boas Práticas e controles validados.

Estamos falando de:

  • BPF (Boas Práticas de Fabricação),
  • APPCC/HACCP,
  • controles de higienização, água, pragas, matérias-primas,
  • normas e certificações como FSSC 22000, ISO 22000, requisitos de clientes, etc.

Ou seja: é o universo da Qualidade, Segurança de Alimentos e Auditorias dentro da indústria.

O que é segurança alimentar?

segurança alimentar (food security) é outro tema. Ela trata da:

  • garantia de acesso ao alimento,
  • disponibilidade de comida suficiente e adequada para a população,
  • questões sociais, econômicas e de políticas públicas.

É um assunto importantíssimo, mas não é a mesma coisa que segurança de alimentos. Uma ONG pode trabalhar com segurança alimentar, enquanto uma indústria trabalha com segurança de alimentos.


Por que confundir os termos enfraquece a área de Qualidade

À primeira vista, pode parecer exagero, mas usar “segurança alimentar” quando você quer falar de segurança de alimentos tem um efeito silencioso (e perigoso) na percepção do seu trabalho.

1. Perda de autoridade técnica

Quando a área de Qualidade confunde conceitos básicos, a mensagem indireta é:

“Nem nós dominamos totalmente o tema.”

Isso pesa quando você:

  • apresenta projetos para diretoria,
  • tenta justificar investimentos em estrutura, treinamentos e BPF,
  • discute requisitos com clientes mais exigentes.

Termo errado = imagem de pouca profundidade.

2. Dificuldade de vender projetos internos

Quando você fala para a diretoria “precisamos investir em segurança alimentar”, o cérebro do gestor pode associar a:

  • ações sociais,
  • projetos de responsabilidade social,
  • campanhas externas.

Mas quando você fala com clareza “precisamos investir em segurança de alimentos, porque hoje temos riscos na higienização, na água e na manipulação”, a conversa muda de patamar e entra na linguagem de:

  • risco,
  • responsabilidade legal,
  • imagem da marca,
  • continuidade do negócio.

3. Comunicação confusa com clientes e auditorias

Clientes grandes, auditorias de certificações e fiscais conhecem bem a diferença. Quando no seu material aparece o termo trocado, a impressão é de descuido técnico.

Pequenos sinais de imprecisão derrubam a credibilidade. E isso vale tanto para um POP mal escrito quanto para um termo técnico trocado.


Segurança de alimentos na prática: muito além do discurso

Falar de segurança de alimentos é falar do que realmente acontece no chão de fábrica, e não só do que está escrito no manual.

Pilares práticos da segurança de alimentos

Na rotina da indústria, segurança de alimentos significa, por exemplo:

  • Boas Práticas de Fabricação (BPF):
    higiene pessoal, higienização de instalações e equipamentos, controle de pragas, água e resíduos.
  • Controles de processo:
    parâmetros críticos em etapas de cozimento, resfriamento, envase, estocagem, etc.
  • Rastreabilidade e gestão de não conformidades:
    saber de onde veio, para onde foi, e o que fazer quando algo foge do padrão.
  • Cultura de segurança de alimentos:
    quando a equipe entende que seguir BPF não é “frescura da Qualidade”, mas proteção ao consumidor e ao próprio emprego.

É aqui que entram ferramentas como RDC 275, APPCC, FSSC 22000 e outras normas de referência.


Exemplo prático: ajustando o discurso para fortalecer a gestão

Vou trazer um cenário que já vi acontecer.

Uma fábrica de produtos panificados tinha uma área de Qualidade esforçada, mas sem muita voz na diretoria. Em reuniões, o discurso era:

“Precisamos investir em segurança alimentar, senão ficamos para trás.”

Soava genérico, quase abstrato. A diretoria associava isso a “melhorar a imagem da marca”, não a controlar risco sanitário.

Quando reestruturamos a comunicação, o foco passou a ser:

  • Termo correto: segurança de alimentos.
  • Riscos claros: pontos específicos de contaminação na linha.
  • Indicadores objetivos: índice de reclamação, resultados de swab, não conformidades em auditorias.
  • Plano prático: implantação por fases das BPF, com checklists simples, cronograma de adequações e registros.

Junto disso, a Qualidade passou a usar um material estruturado – no caso, um método similar ao que hoje apresento no DOMINE BPF: fases claras, priorização de riscos, modelo de checklists e cronogramas de implantação.

Resultado em poucos meses:

  • A diretoria começou a enxergar a área como guardiã do risco, não como “departamento do não”.
  • Investimentos críticos em estrutura, treinamento e registros foram aprovados.
  • A fábrica reduziu falhas em BPF, melhorou o desempenho em auditorias e conseguiu negociar melhor com clientes exigentes.

Tudo começou com clareza de conceitos e uma comunicação técnica, mas acessível.


Como alinhar discurso, equipe e documentação em segurança de alimentos

Se você quer que a sua área de Qualidade seja respeitada como deveria, precisa alinhar conceito, prática e discurso.

Passos simples para começar

  • Revisar documentos oficiais
    • Ajuste MBPF, POPs, apresentações e planos de treinamento.
    • Use consistentemente o termo segurança de alimentos quando o foco for risco sanitário.
  • Treinar a liderança e multiplicadores
    • Explique a diferença entre segurança de alimentos e segurança alimentar.
    • Mostre como isso impacta relatórios, auditorias e comunicação com clientes.
  • Ajustar a forma de apresentar projetos
    • Em vez de “precisamos disso para segurança alimentar”, use:
      • “Precisamos disso para reduzir risco de contaminação”,
      • “para atender à RDC 275 e clientes X e Y”,
      • “para proteger a marca e evitar recall”.
  • Usar métodos estruturados
    • Ferramentas como o DOMINE BPF ajudam a transformar segurança de alimentos em cronogramas, checklists, planos de ação e indicadores claros.
    • Isso tira o tema do campo da opinião e coloca no campo da gestão: o que está feito, o que falta e qual o impacto.

Conclusão: termos certos, posicionamento forte

Em resumo: segurança de alimentos e segurança alimentar não são só palavras diferentes – são mundos diferentes.

Quando a Qualidade domina esse vocabulário e o usa com precisão:

  • ganha respeito técnico,
  • se comunica melhor com diretoria e clientes,
  • consegue aprovar projetos de melhoria,
  • fortalece sua posição como área estratégica da empresa.

Se você quer dar o próximo passo e estruturar a segurança de alimentos da sua indústria com foco em BPF, auditorias e resultados concretos, vale conhecer mais a fundo o DOMINE BPF e outros materiais do site. Eles foram pensados justamente para transformar linguagem técnica e legislação em método prático e aplicável na rotina da sua fábrica.


FAQ – Perguntas frequentes sobre segurança de alimentos x segurança alimentar

1. O que é segurança de alimentos?
É o conjunto de controles, práticas e sistemas usados para garantir que o alimento não cause danos ao consumidor, controlando perigos físicos, químicos e biológicos.

2. O que é segurança alimentar?
É a garantia de acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para a população. Está ligada a políticas públicas e questões sociais, não à rotina da fábrica.

3. Por que usar o termo errado prejudica a área de Qualidade?
Porque transmite falta de domínio técnico, enfraquece a argumentação em reuniões e pode gerar ruído com clientes, auditores e órgãos reguladores.

4. Como posso começar a fortalecer a segurança de alimentos na minha indústria?
Comece alinhando o vocabulário, revisando documentos, priorizando riscos críticos (água, higienização, manipuladores, pragas) e usando métodos estruturados de implantação de BPF.

5. O DOMINE BPF substitui normas e legislações?
Não. Ele ajuda a colocar em prática o que normas e legislações exigem, organizando a implantação de Boas Práticas de Fabricação em fases claras, com checklists, cronograma e foco em segurança de alimentos.

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Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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