Plástico em alimentos: ANVISA reforça que plástico nunca pode ser ingrediente

Plástico em alimentos: Anvisa reforça que plástico nunca pode ser ingrediente. Entenda os riscos do glitter na confeitaria e proteja a saúde da sua família.

Em 21 de outubro de 2025, a Anvisa publicou um esclarecimento oficial deixando algo muito claro: plástico em alimentos – incluindo o polipropileno (PP) micronizado – não está autorizado como componente de produtos alimentícios, sejam preparados ou industrializados.

Na prática, isso significa que nenhum pó decorativo ou glitter com plástico em sua composição pode ser usado diretamente sobre bolos, doces, sobremesas ou qualquer alimento destinado ao consumo humano. Esses produtos só podem ser utilizados em objetos decorativos não comestíveis, como topos de bolo, cenários de festa etc.

Como Engenheira de Alimentos e especialista em qualidade e segurança de alimentos, quero te explicar o que esse alerta sobre plástico em alimentos significa na vida real, por que a Anvisa precisou reforçar esse posicionamento e como você, como consumidor ou profissional de confeitaria, pode se proteger.


1. O que exatamente a Anvisa esclareceu sobre plástico em alimentos?

O comunicado da Anvisa trouxe alguns pontos-chave:

  • Plásticos, incluindo o PP micronizado, não são autorizados como componentes de alimentos.
  • Nenhum pó decorativo/glitter que contenha PP micronizado pode ser usado em confeitaria ou decoração de alimentos, mesmo que o produto esteja sendo vendido em lojas de festas.
  • Plásticos só são autorizados em materiais que entram em contato com alimentos, como embalagens e utensílios, e mesmo assim apenas quando aprovados pela Anvisa após avaliação de segurança (migração, limites, condições de uso).
  • Produtos usados para colorir ou decorar bolos, doces e similares são considerados alimentos e, por isso, devem ser feitos apenas com ingredientes e aditivos previamente autorizados, com base em avaliação de segurança para a população.

A Agência ainda lembra que existe um painel público com a lista de aditivos autorizados e suas condições de uso, onde é possível pesquisar, por exemplo, quais corantes podem ser usados de forma segura em alimentos.


2. Plástico em contato x plástico em alimentos como “ingrediente”: qual é a diferença?

Esse é um ponto que costuma confundir muita gente quando falamos em plástico em alimentos.

✅ Plástico em contato com alimentos (embalagens, utensílios)

  • Alguns tipos de plástico são autorizados em embalagens, utensílios, tampas, potes etc.
  • Mesmo assim, esses materiais passam por avaliação da Anvisa, que analisa a migração de substâncias do plástico para o alimento.
  • Quando aprovados, entram em listas positivas, com limites máximos de migração e condições específicas de uso.

Ou seja: não é qualquer plástico, de qualquer jeito.

❌ Plástico como componente do alimento

Aqui falamos de algo completamente diferente: colocar o plástico dentro do alimento, como parte da composição de um glitter “comestível”, por exemplo.

Nesse caso, o plástico passa a ser ingerido diretamente, como se fosse um ingrediente.
É exatamente isso que caracteriza o plástico em alimentos como componente, e isso não é autorizado pela Anvisa.


3. O caso do glitter e dos pós decorativos para confeitaria

O esclarecimento sobre plástico em alimentos surgiu a partir de questionamentos sobre a comercialização de pós decorativos/glitter vendidos para decoração de alimentos e supostamente compostos de polipropileno micronizado (PP).

Em lojas de festas, é comum encontrar:

  • Pó decorativo não comestível, feito para usar em cenários, topos, enfeites;
  • Pó decorativo próprio para consumo, formulado com corantes e aditivos autorizados para uso em alimentos.

Muitas vezes, esses produtos ficam lado a lado na prateleira, com embalagens bonitas, brilhosas e muito parecidas. Isso aumenta o risco de:

  • Consumidores leigos comprarem o produto errado para usar direto no bolo e nos doces;
  • Profissionais de confeitaria errarem por confiar apenas na aparência ou em uma informação vaga do fornecedor.

Por isso, a Anvisa reforça: é fundamental ler o rótulo com atenção para evitar, na prática, plástico em alimentos.


4. Por que plástico dentro do alimento é tão preocupante?

Do ponto de vista de segurança de alimentos, quando falamos em plástico em alimentos temos duas grandes questões:

4.1 O material plástico em si

  • Micro e nanopartículas de plástico já foram detectadas em diversos alimentos e bebidas no mundo, levantando preocupações sobre seus efeitos no organismo.
  • Estudos e organismos internacionais (como FAO e OMS) vêm monitorando o tema e destacando a necessidade de reduzir a exposição, mesmo que ainda existam lacunas científicas sobre todos os impactos na saúde.

4.2 Aditivos e contaminantes ligados ao plástico

  • Plásticos podem carregar aditivos químicos e contaminantes associados, que podem migrar para o organismo e contribuir para efeitos como estresse oxidativo, inflamação e possíveis impactos no sistema imunológico, conforme apontam revisões recentes.

Quando falamos em usar plástico como “ingrediente” de glitter comestível, estamos falando em ingerir deliberadamente essas partículas, não de uma contaminação acidental ou residual.

Do ponto de vista de quem trabalha com segurança de alimentos, isso é inaceitável:

O alimento deve ser formulado com ingredientes que passaram por avaliação de segurança e foram autorizados para esse fim – e o plástico em alimentos não faz parte dessa lista.


5. Como o consumidor pode se proteger na prática

Na confeitaria profissional ou em casa, algumas atitudes simples reduzem o risco de plástico em alimentos:

Na hora de comprar corantes, glitters e confeitos:

  • Leia sempre a lista de ingredientes
    Ela é obrigatória em alimentos e deve conter apenas ingredientes e aditivos autorizados.
  • Observe a denominação de venda
    Termos como “corante artificial para fins alimentícios”, “açúcar para confeitar”, “spray para decoração de alimentos” indicam que o produto foi pensado para uso em comida.
    Se aparecer algo como “pó decorativo para fins artísticos”, “uso decorativo não comestível” ou similar, não use no alimento.
  • Verifique lote e data de validade – produto irregular geralmente descuida desses detalhes.
  • Veja as informações de alergênicos e glúten, que também são obrigatórias quando o produto é alimento.
  • Desconfie de produtos sem rótulo completo, vendidos a granel, em saquinhos sem identificação ou com rótulo amador.

Desconfie especialmente de:

  • Produtos muito baratos, sem marca clara e sem CNPJ;
  • Itens vendidos em lojas de festa como “glitter comestível”, mas com rótulo confuso ou incompleto;
  • Qualquer menção direta a “polipropileno”, “PP micronizado” ou termos similares na lista de ingredientes.

Tudo isso é sinal de alerta para possível presença de plástico em alimentos.


6. E se você encontrar um produto suspeito?

A própria Anvisa orienta: nenhum produto com PP micronizado está autorizado para consumo, e recentemente foram suspensas quatro marcas de glitter com materiais plásticos em sua composição.

E determinou: nenhum produto com PP micronizado está autorizado para consumo ao suspender esse mês quatro marcas de glitter com materiais plásticos em sua composição.

Se você encontrar algo suspeito – em loja física ou na internet –, você pode (e deve) denunciar:

  • Para a Vigilância Sanitária do seu município, pelos canais indicados no portal da Anvisa;
  • Diretamente para a Anvisa, pelos canais de atendimento oficiais.

Para que a denúncia seja investigada, é importante enviar:

  • Foto do rótulo completo;
  • Marca e denominação do produto;
  • Instruções de uso (se houver);
  • Dados do fabricante/distribuidor (razão social e CNPJ);
  • Lista de ingredientes, lote e validade.

Essas informações permitem que o órgão de vigilância rastreie o produto, o fabricante e tome medidas para proteger a população contra plástico em alimentos.


7. Como profissional de qualidade, o que eu vejo por trás desse alerta

Do ponto de vista técnico e de gestão da qualidade em indústrias de alimentos e confeitarias, esse comunicado da Anvisa revela três pontos importantes:

  1. O mercado de produtos “instagrâmicos” (brilhos, cores, efeitos) cresceu mais rápido do que a percepção de risco.
  2. Nem todo estabelecimento que trabalha com alimentos tem clareza sobre os limites regulatórios de uso de plástico em alimentos, o que exige treinamento constante e atualização de fornecedores.
  3. O consumidor precisa ser parte ativa da cadeia de segurança de alimentos, aprendendo a ler rótulos, desconfiar de produtos duvidosos e denunciar irregularidades.

Como Engenheira de Alimentos e profissional de qualidade, minha mensagem é direta:

Segurança de alimentos não é exagero, é compromisso com a saúde das pessoas.
Glitter bonito nenhum vale o risco de colocar plástico no prato de alguém.


8. Fechando: o que você pode fazer a partir de hoje

  • Se você trabalha com confeitaria: revise imediatamente seus insumos decorativos, verifique rótulos, cobre laudos e regularidade de fornecedores para garantir que não haja plástico em alimentos na sua produção.
  • Se você é consumidor: aprenda a ler rótulos, questione, denuncie quando achar algo estranho.

Sempre que ver glitters e pós decorativos em lojas de festas, lembre:

Nem tudo que brilha pode ir para o seu prato – e plástico em alimentos nunca deveria estar no cardápio.

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Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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