FSSC 22000 v6 na prática: o que mudou e como isso impacta a rotina da sua indústria de alimentos

FSSC 22000 é um esquema de certificação de segurança de alimentos reconhecido globalmente, baseado na ISO 22000, nos programas de pré-requisitos (PRPs) e em requisitos adicionais próprios do esquema.

A FSSC 22000 é um esquema de certificação de segurança de alimentos reconhecido globalmente, baseado na ISO 22000, nos programas de pré-requisitos (PRPs) e em requisitos adicionais próprios do esquema.

A versão 6, publicada em 2023, veio com uma missão clara:

  • alinhar o esquema à ISO 22003-1:2022,
  • reforçar o foco em cultura de segurança e qualidade,
  • aproximar a certificação das metas de sustentabilidade, como redução de perdas e desperdícios de alimentos.

Na prática, isso significa auditorias mais robustas, maior cobrança sobre a rotina do dia a dia e menos espaço para “papel bonito na pasta” que não reflete o chão de fábrica.

Na minha experiência, o que mais derruba empresas em auditorias FSSC não é a norma em si, mas a falta de rotina mínima bem cuidada: BPF frágeis, registros incompletos e times que não entendem o “porquê” dos controles.


Principais mudanças da FSSC 22000 v6 que afetam o seu dia a dia

1. Mais foco em cultura de segurança e qualidade

A versão 6 reforça a cultura de segurança de alimentos e qualidade como algo vivo, e não apenas uma frase no manual. Há uma integração mais clara entre requisitos de liderança, engajamento de pessoas, comunicação interna e comportamento no chão de fábrica.

Na prática, o que muda?

  • Não basta treinar uma vez por ano:
    • é preciso evidenciar ações contínuas (diálogos de segurança, campanhas, devolutiva de desvios).
  • A alta direção precisa aparecer de fato no sistema:
    • participando de reuniões, aprovando planos, acompanhando indicadores.
  • A cultura é cobrada em pontos como:
    • como a equipe reage a desvios,
    • se há medo de reportar problemas,
    • se a pressão por produtividade atropela segurança.

Sinal de alerta: se a sua equipe “ajeita” práticas só na véspera da auditoria, a v6 vai escancarar esse problema.


2. Novos requisitos: qualidade, equipamentos e desperdício de alimentos

A FSSC 22000 v6 trouxe novos requisitos adicionais e reforçou outros que já existiam:

  • Controle de qualidade:
    • foco maior em planos de controle, critérios de liberação, gestão de não conformidades de qualidade (não só segurança).
  • Gestão de equipamentos:
    • necessidade de controles mais claros sobre projeto, instalação, manutenção e alterações em equipamentos para garantir que não criem riscos de contaminação.
  • Perdas e desperdício de alimentos (Food Loss and Waste):
    • a empresa deve ter política, objetivos e controles para reduzir perdas e desperdício ao longo do processo, incluindo doações, uso como ração, etc.

O que isso significa para a rotina?

  • Você terá que responder a perguntas como:
    • Quanto produto você perde hoje em retrabalho, refugos, devoluções?
    • O que é feito com esse produto? Há riscos de segurança?
  • Será necessário:
    • mapear pontos de perda,
    • definir metas,
    • acompanhar indicadores,
    • planejar ações de melhoria (melhor ajuste de processos, revisão de validade, melhoria de embalagem, etc.).

Isso puxa o sistema para um nível mais estratégico, conectando segurança, qualidade e sustentabilidade.


3. Mudanças em escopo, categorias e forma de auditar

Com a integração à ISO 22003-1:2022, houve realinhamento das categorias da cadeia de alimentos, inclusão mais clara de trading e brokering, retirada de “farming” do escopo e mudanças em tempo e abordagem de auditoria.

Na prática, isso pode significar:

  • Ajustes no escopo de certificação da empresa (como descrever atividades, categorias etc.).
  • Auditorias mais longas e profundas, com mais tempo em processo e menos tempo apenas em sala de reunião.
  • Maior atenção a temas como:
    • mudanças climáticas e continuidade de negócios,
    • riscos da cadeia de suprimentos.

Se hoje você já sente a auditoria como “puxada”, a v6 tende a ser ainda mais exigente — e isso é bom para quem realmente trabalha com sistema vivo e não com “maquiagem de auditoria”.


Como se preparar para a FSSC 22000 v6 sem travar a operação

Em vez de pensar em “projeto gigante”, recomendo um caminho enxuto e prioritário:

Passo a passo sugerido

  1. Estude as mudanças com foco:
    • Baixe o resumo das alterações da v6 e marque o que realmente impacta o seu processo.
  2. Faça um diagnóstico rápido (gap analysis):
    • Compare o que você já tem com o que a v6 pede, especialmente em:
      • cultura de segurança,
      • perdas e desperdício de alimentos,
      • gestão de equipamentos,
      • controles de qualidade.
  3. Defina prioridades de curto prazo:
    • Liste 3 a 5 frentes críticas que:
      • geram mais risco de não conformidade,
      • impactam mais a operação,
      • trazem resultado visível para o time.
  4. Fortaleça a base: BPF e POPs na prática
    • Sem BPF bem implantadas, nenhum requisito da FSSC 22000 “se sustenta” no chão de fábrica.
    • É aqui que entram checklists bem feitos, rotinas claras, responsáveis definidos e registros simples de executar.
  5. Engaje o time, não só a documentação
    • Transforme requisitos em rotinas visíveis:
      • checklists de início de turno,
      • reuniões curtas de 10 minutos,
      • painéis visuais de indicadores,
      • reconhecimento de boas práticas.
  6. Simule uma auditoria interna v6
    • Use um roteiro com foco nas mudanças e simule perguntas que um auditor faria:
      • “Mostre como vocês monitoram desperdício de alimentos.”
      • “Como a alta direção participa da cultura de segurança?”

Exemplo prático: uma fábrica de salgados diante da FSSC 22000 v6

Imagine uma indústria de salgados congelados que já era certificada FSSC 22000 v5.1.

Situação inicial:

  • BPF implementadas, mas:
    • muitos registros “preenchidos no fim do turno”,
    • equipe cansada de papel,
    • perdas constantes por erros de rotulagem e peso fora de especificação.
  • Pouca clareza sobre quanto era perdido em retrabalhos e descartes.

Com a chegada da v6, a empresa decidiu:

  • Mapear em três meses:
    • principais pontos de perdas de produtos (produção, embalagem, expedição);
    • causas mais comuns desses desperdícios.
  • Implantar:
    • indicadores simples de desperdício por linha;
    • rotina de análise semanal de causas (usando ferramentas simples como 5 Porquês);
    • plano de ação para ajustar equipamentos críticos de dosagem e selagem.

Resultado depois de alguns meses:

  • Redução de perdas em um dos principais SKUs,
  • Menos retrabalho,
  • Melhor clima nas auditorias, pois a equipe sabia explicar por que estava fazendo cada controle.

É esse tipo de ganho concreto que a v6 estimula: não é só sobre “passar em auditoria”, mas sobre organizar a casa para produzir com mais segurança e menos desperdício.


Onde o Domine BPF entra no jogo da FSSC 22000 v6

A FSSC 22000 parte de um tripé: ISO 22000 + PRPs + requisitos adicionais.
Quem sustenta tudo isso no chão de fábrica são as Boas Práticas de Fabricação (BPF).

Se as BPF estão frágeis, você:

  • tem mais desvio no dia a dia,
  • “apaga incêndio” o tempo todo,
  • sofre muito mais com qualquer mudança de norma.

O Domine BPF foi pensado justamente para quem precisa:

  • tirar as BPF do papel e colocar em rotina,
  • ter checklists práticos, orientações claras e linguagem acessível para o time,
  • ganhar velocidade na implantação e manutenção de BPF — base necessária para qualquer certificação mais robusta, incluindo a FSSC 22000 v6.

Na minha visão de campo, as empresas que mais sofrem na transição para v6 não são as que “não conhecem a norma”, e sim as que não têm BPF consistentes. Por isso, investir primeiro em uma base sólida facilita muito o caminho até a certificação.

👉 Se você quer organizar a casa, reduzir não conformidades e se preparar melhor para a FSSC 22000 v6, o próximo passo natural é aprofundar a implantação de BPF na sua indústria. O Domine BPF foi desenhado exatamente para isso.


Conclusão: FSSC 22000 v6 como oportunidade de profissionalizar a rotina

A FSSC 22000 v6 não veio para complicar a sua vida — ela veio para forçar o sistema a refletir a realidade:

  • cultura viva,
  • perdas e desperdícios sob controle,
  • gestão mais inteligente de equipamentos,
  • foco real em segurança e qualidade.

Se você usar essa mudança como o empurrão que faltava para organizar a rotina, fortalecer BPF e engajar o time, a certificação deixa de ser “um peso” e passa a ser consequência de um processo bem gerido.

Se você quer dar esse próximo passo com menos tentativa e erro, vale a pena conhecer melhor o Domine BPF e os conteúdos complementares do site. Eles foram pensados para transformar norma em rotina prática, com ganho real de segurança, produtividade e tranquilidade nas auditorias.

FAQ – Perguntas frequentes sobre FSSC 22000 v6

1. O que é a FSSC 22000 v6?
É a versão mais recente do esquema de certificação FSSC 22000, que integra ISO 22000, PRPs e requisitos adicionais atualizados, com foco maior em cultura de segurança, desperdício de alimentos, gestão de equipamentos e sustentabilidade.

2. Todas as empresas certificadas FSSC 22000 precisam migrar para a v6?
Sim. Empresas já certificadas devem passar por uma auditoria de upgrade para a versão 6 dentro do prazo definido pelo esquema, substituindo a antiga v5.1.

3. A FSSC 22000 v6 é só para grandes indústrias?
Não. Pequenas e médias indústrias também podem ser certificadas. Na prática, a v6 exige organização de rotina e registros bem estruturados, independente do porte.

4. Qual a relação entre FSSC 22000 v6 e BPF?
As BPF são a base operacional da segurança de alimentos. Sem BPF bem implantadas, é praticamente impossível sustentar os requisitos da FSSC 22000 v6 na prática.

5. Por onde começar a se preparar para a FSSC 22000 v6?
Comece entendendo as mudanças, faça um diagnóstico das lacunas na sua indústria e fortaleça a base de BPF, POPs e cultura de segurança. Ferramentas como o Domine BPF podem acelerar muito esse processo.

Eu te convido a ler também os seguintes artigos:

RDC 275 e BPF: como tirar o programa do papel na sua indústria de alimentos e

HACCP (APPCC )na prática: como montar um plano enxuto que funcione no chão de fábrica. Caso queira descomplicar a implantação das BPFs, confira o Domine BPF – meu método completo de implantação de BPF.

Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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