BPFs falhas: 7 equívocos comuns em fábricas de alimentos

Descubra por que BPF não é só lavar mãos e usar touca e conheça os 7 equívocos mais comuns nas fábricas de alimentos.

Quando alguém fala em BPF na indústria de alimentos, a imagem que vem à cabeça geralmente é a mesma: colaborador lavando as mãos e usando touca. Esses dois pontos são importantes, claro. Mas, na prática, reduzir Boas Práticas de Fabricação a isso é um dos grandes motivos pelos quais tantos programas não funcionam de verdade no chão de fábrica.

Na minha experiência com qualidade e segurança de alimentos, o que vejo é um padrão: empresas até têm documentos, treinamentos e checklists, mas continuam com desvios básicos justamente porque não enxergam BPF como sistema, e sim como uma coleção de regras soltas.


1. Achar que BPF é apenas higiene pessoal

O primeiro equívoco é o mais óbvio: acreditar que BPF se resume a:

  • lavar as mãos,
  • usar touca,
  • colocar avental,
  • não usar acessórios.

Tudo isso faz parte, mas Boas Práticas de Fabricação abrangem:

  • instalações (piso, parede, teto, layout, fluxo),
  • equipamentos (projeto, manutenção, limpeza),
  • água, gelo e ar comprimido,
  • controle de pragas,
  • armazenamento e transporte,
  • documentos e registros.

Quando a gestão foca só em higiene pessoal, os riscos estruturais continuam escondidos – e é justamente ali que mora boa parte dos problemas.


2. Tratar BPF como “projeto da Qualidade”, não como rotina da fábrica

Outro equívoco comum é delegar tudo para uma pessoa ou um pequeno time, como se Boas Práticas fossem responsabilidade exclusiva do setor de Qualidade.

Na prática, isso gera situações como:

  • produção “ajustando” processo sem avisar ninguém;
  • manutenção fazendo intervenções sem padronização;
  • almoxarifado misturando materiais incompatíveis na mesma área.

BPF eficiente é transversal. Envolve:

  • liderança de produção,
  • manutenção,
  • estoque e logística,
  • até compras (seleção de fornecedores e especificações).

Quando só a Qualidade “carrega o piano”, o sistema fica frágil e dependente de poucas pessoas.


3. Acreditar que um bom MBPF resolve tudo sozinho

Ter um Manual de Boas Práticas bonito, bem diagramado e cheio de capítulos não significa que o programa funciona. Um equívoco enorme é achar que, depois que o MBPF está aprovado, “o trabalho acabou”.

O que vejo nas empresas é:

  • manual guardado em gaveta ou numa pasta que ninguém abre;
  • textos copiados de modelos genéricos, sem aderência à realidade;
  • descrições de processos que não combinam com o que acontece na linha.

O manual deveria ser um espelho do que acontece na fábrica, não uma “versão ideal” escrita só para agradar auditor.


4. Confundir excesso de papel com controle real

Você provavelmente já viu: pilhas de registros, fichas de inspeção, planilhas impressas que ninguém consulta. Existe a crença de que quanto mais formulário, mais robusto é o sistema. E isso é um equívoco perigoso.

Alguns sinais:

  • colaboradores preenchem registros sem entender o porquê;
  • campos copiados e colados todos os dias, sem análise crítica;
  • dados que nunca viram indicadores ou ações concretas.

Registro bom é aquele que:

  • é rápido de preencher,
  • coleta informações essenciais,
  • é usado para tomada de decisão.

Caso contrário, você só está gerando papelada – e dando mais trabalho para a equipe, sem ganho real em segurança de alimentos.


5. Fazer treinamento de BPF só na integração ou para “cumprir tabela”

Treinamento não é “palestra anual com lista de presença”. Esse é outro ponto onde muitas fábricas tropeçam.

Erros comuns:

  • treinamento único na admissão e nunca mais;
  • linguagem excessivamente técnica, sem contextualizar com o dia a dia;
  • uso de slides cheios de texto, sem exemplos reais da própria planta.

Treinamentos em Boas Práticas ganham força quando:

  • usam fotos e situações reais da fábrica;
  • conectam cada prática com riscos concretos (corpo estranho, contaminação cruzada, reclamação de cliente);
  • são reforçados com orientações rápidas no posto de trabalho, não só em sala.

6. Ignorar que BPF precisa de verificação e disciplina

Muita empresa até treina, documenta e registra, mas não verifica. Acredita que, uma vez implantado, o programa “anda sozinho”. Só que BPF sem verificação vira teoria.

Na prática, é essencial ter:

  • checklists de inspeção de rotina,
  • auditorias internas focadas em Boas Práticas,
  • acompanhamento de indicadores simples, como:
    • número de não conformidades em BPF por área,
    • reincidência de falhas,
    • pontos críticos recorrentes em auditorias.

Sem esse olhar, o sistema vai se desgastando aos poucos, até que uma inspeção externa ou reclamação grave mostra que muita coisa já tinha saído do trilho.


7. Tentar implantar tudo de uma vez, sem priorizar riscos

Talvez o equívoco mais cansativo (para a equipe e para o gestor) seja tomar a lista de requisitos e tentar “fazer tudo ao mesmo tempo”. O resultado costuma ser:

  • time sobrecarregado,
  • planos que nunca são concluídos,
  • frustração generalizada.

Na minha experiência, o caminho mais inteligente é trabalhar por fases, priorizando:

  1. Riscos críticos imediatos: água, higienização, manipuladores, pragas, resíduos.
  2. Estrutura e fluxo: áreas, layout, separação de matérias-primas e produtos.
  3. Documentos e registros mais complexos: POPs detalhados, planos de amostragem, auditorias formais.

Esse tipo de abordagem em fases é a base de métodos estruturados como o DOMINE BPF, que organizam a implantação em semanas e etapas claras, em vez de jogar tudo nas costas da equipe de uma vez só.


Mini estudo de caso: quando BPF deixa de ser “frescura”

Em uma pequena indústria de salgados, a fala padrão dos operadores era:

“Isso aí de BPF é frescura, é coisa de papel.”

Havia problemas como:

  • uniformes usados de forma incorreta,
  • higienização feita “quando dava tempo”,
  • registros preenchidos depois do turno, só para constar.

Ao invés de insistir apenas em cobrança, reestruturamos o programa com três frentes:

  • Priorização de risco: focamos primeiro em água, higienização e manipulação.
  • Treinamento prático: usamos fotos da própria fábrica, ligando cada falha a riscos reais e reclamações já ocorridas.
  • Ferramenta organizada: implantamos um roteiro em fases, inspirado no DOMINE BPF, com poucos registros bem feitos e checklists diários simples.

Em poucos meses:

  • quedas visíveis em não conformidades de Boas Práticas,
  • auditorias mais tranquilas,
  • discurso da equipe mudando de “frescura” para “isso aqui é o nosso jeito de trabalhar”.

Conclusão: BPF é sistema, não lista de regras

Boas Práticas de Fabricação não são um conjunto de ordens aleatórias, nem se resumem a lavar a mão e usar touca. São um sistema estruturado de prevenção, que protege o consumidor, a marca e a própria continuidade do negócio.

Quando você:

  • entende a abrangência das Boas Práticas,
  • evita os sete equívocos mais comuns,
  • trabalha com priorização de risco e fases claras,

o programa deixa de ser um peso imposto pela Qualidade e passa a ser parte natural da rotina da fábrica.

Se você quer dar o próximo passo e organizar esse sistema de forma prática, com cronograma, checklists e foco em resultado, vale conhecer melhor o DOMINE BPF e outros conteúdos do site. Eles foram pensados para transformar teoria em ação concreta no chão de fábrica.


FAQ – Perguntas frequentes sobre BPF

1. O que são BPF na indústria de alimentos?
São Boas Práticas de Fabricação: um conjunto de requisitos que garantem condições adequadas de produção, reduzindo riscos de contaminação e protegendo o consumidor.

2. BPF é só higiene de manipuladores?
Não. Envolve instalações, equipamentos, água, pragas, armazenamento, documentação, treinamento, verificação e muito mais.

3. Por onde começar a implantar Boas Práticas?
Pelo que mais impacta o risco: qualidade da água, higienização, práticas de manipuladores, resíduos e pragas. Depois, avance para estrutura e documentação.

4. Preciso de muito papel para ter um bom programa?
Você precisa de registros suficientes, mas bem pensados. Menos é mais, desde que aquilo que é preenchido seja útil para análise e tomada de decisão.

5. Como o DOMINE BPF pode ajudar?
É um método que organiza a implantação de Boas Práticas em fases, com cronogramas, modelos e checklists práticos, facilitando a aplicação no dia a dia da fábrica.

RDC 275 e BPF: como tirar o programa do papel na sua indústria de alimentos

Domine BPF – meu método completo de implantação de BPF

Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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