HACCP é opcional? 5 vantagens de ter seu sistema certificado

HACCP é opcional? Entenda quando o sistema é exigido e conheça 5 vantagens de ter um programa certificado na sua indústria de alimentos.

Quando o assunto é HACCP, muita indústria de alimentos ainda enxerga o tema como “algo a mais”, um diferencial para quem quer certificação ou atende clientes muito grandes. A dúvida aparece em todo treinamento e reunião de diretoria: “Mas isso é obrigatório mesmo?”.

Na minha experiência com qualidade e segurança de alimentos, o que vejo é que a pergunta certa não é apenas se o HACCP é obrigatório, e sim: “Quanto custa não ter um sistema estruturado quando acontece um problema sério de segurança de alimentos?”.


O que é HACCP e por que ele não é “só mais um papel”

Antes de falar se é opcional ou não, vale alinhar o conceito.

Sistema de análise de perigos e pontos críticos

De forma simples, o HACCP é um sistema que ajuda a:

  • identificar perigos (físicos, químicos e biológicos) no processo;
  • definir pontos onde o controle é realmente crítico;
  • estabelecer limites, monitoramento e ações corretivas;
  • registrar evidências de que tudo isso acontece, de forma consistente.

Ou seja, não é só um fluxograma bonito na parede. É a espinha dorsal da segurança de alimentos na planta.

Por que tanta gente acha que é opcional?

Essa percepção vem, em geral, de três situações:

  • empresas menores que nunca foram pressionadas por clientes ou certificadoras;
  • falta de entendimento da ligação entre o sistema e o risco real;
  • histórico de foco apenas em Boas Práticas de Fabricação básicas, sem evoluir para análise de perigos mais estruturada.

O resultado é uma sensação de “isso é exagero para o meu porte”, até o dia em que um desvio grave acontece.


Afinal, HACCP é opcional?

Aqui entra um ponto importante: na letra fria da lei, em muitos segmentos o HACCP ainda aparece como recomendação ou requisito associado a certos tipos de produto e processos. Por outro lado, no mundo real de negócios, ele se torna cada vez mais um pré-requisito de mercado.

Na prática, o sistema deixa de ser “opcional” quando:

  • clientes (principalmente grandes redes e indústrias de marca própria) passam a exigir;
  • certificações de segurança de alimentos, como FSSC 22000 ou equivalentes, são colocadas como condição de fornecimento;
  • a empresa quer reduzir risco de recall e fortalecer sua marca.

Então, mais do que discutir se a legislação “obriga” em todos os casos, a pergunta estratégica é:

Você quer operar no mínimo legal ou quer competir em um nível mais alto de confiança e acesso a mercados?


As 5 vantagens de ter um sistema HACCP certificado

Mesmo quando ainda não há pressão explícita do mercado, um sistema certificado traz ganhos muito concretos para a indústria.

1. Redução real de risco de segurança de alimentos

Com o HACCP, a indústria:

  • olha para o processo com foco em perigos, não só em rotina;
  • define pontos críticos (como cozimento, resfriamento, pH, tempo/temperatura);
  • estabelece limites claros e monitoramento estruturado.

Isso reduz drasticamente as chances de:

  • contaminações graves passarem despercebidas;
  • decisões serem tomadas no “achismo”;
  • a fábrica se surpreender com problemas que poderiam ter sido previstos.

2. Mais força comercial e acesso a novos clientes

Ter um sistema certificado abre portas. Para muitos compradores, especialmente:

  • grandes redes de varejo,
  • indústrias que terceirizam produção,
  • empresas que exportam,

um programa robusto de HACCP deixa de ser um diferencial e passa a ser requisito mínimo.

Na mesa de negociação, isso muda o tom da conversa. Em vez de “estamos nos organizando”, você mostra:

  • laudos,
  • planos,
  • registros,
  • certificação.

Isso gera confiança imediata.

3. Organização de processos e dados

Uma das maiores queixas que ouço é: “Temos um monte de registro, mas ninguém consegue usar.”.

Quando bem implantado, o sistema:

  • organiza pontos de monitoramento;
  • define quais dados realmente importam;
  • conecta produção, qualidade e manutenção.

Isso facilita:

  • análises de tendência,
  • avaliação de eficácia de ações corretivas,
  • tomada de decisão baseada em fatos.

4. Segurança em auditorias e simulações de recall

Qualquer auditor experiente vai olhar para o HACCP como peça central do sistema de gestão de segurança de alimentos. Quando o programa está bem implementado:

  • simulações de recall ficam mais rápidas;
  • ligações entre perigos, pontos críticos e registros aparecem com clareza;
  • a empresa mostra domínio do próprio processo.

Isso não só reduz risco de não conformidades graves, como também traz tranquilidade para a equipe quando uma auditoria mais robusta aparece na agenda.

5. Fortalecimento da cultura de segurança de alimentos

Talvez o ponto mais subestimado: um programa bem comunicado ajuda a mudar mentalidade.

Quando os colaboradores entendem:

  • “Por que esse ponto é crítico?”
  • “Que perigo estamos prevenindo aqui?”
  • “O que acontece se eu relaxar nesse monitoramento?”,

eles param de ver os controles como burocracia e passam a enxergar como proteção ao consumidor e ao próprio emprego.


Mini estudo de caso: quando a decisão de certificar muda o jogo

Uma indústria de produtos prontos resfriados vinha operando há anos com BPF razoáveis, mas sem um programa formal. Até que:

  • começou a perder concorrências para empresas certificadas;
  • recebeu exigência explícita de um cliente-chave para implementar HACCP e evoluir para uma certificação reconhecida.

No início, a diretoria via como custo e complicação. Mas, durante o projeto:

  • fluxos foram redesenhados com foco em perigos;
  • pontos críticos foram claramente identificados e monitorados;
  • registros foram simplificados e integrados;
  • a equipe foi treinada com exemplos reais da própria fábrica.

Pouco tempo depois da certificação:

  • o índice de reclamações por problemas de processo caiu;
  • auditorias de clientes ficaram mais tranquilas;
  • a empresa conseguiu entrar em redes que antes eram inacessíveis.

Ou seja: o retorno veio não só em imagem, mas em resultado financeiro e redução de risco.


Como se preparar para certificar sem surtar

Um erro comum é tentar começar direto no nível mais alto, sem ter a base organizada.

Na prática, o caminho mais inteligente é:

  • consolidar Boas Práticas de Fabricação (BPF) primeiro;
  • garantir estrutura mínima: água, higienização, manipuladores, pragas, resíduos, layout;
  • organizar documentação básica, registros e rotinas de verificação.

Ferramentas estruturadas, como o programa Domine BPF – meu método completo de implantação de BPF, ajudam exatamente aqui: criar a base para que, quando você avançar para a etapa de análise de perigos e pontos críticos, o terreno já esteja preparado. Em vez de construir o sistema em cima de improviso, você o constrói em cima de processos estáveis.


Conclusão: opcional no papel, estratégico na prática

Em muitos cenários, alguém ainda pode argumentar que o HACCP é “opcional” do ponto de vista estritamente legal. Mas, olhando pela ótica de:

  • acesso a mercados,
  • competitividade,
  • risco de recall,
  • proteção de marca e pessoas,

ele deixa de ser luxo e passa a ser estratégia de sobrevivência e crescimento.

Se você está avaliando dar esse passo, comece estruturando bem suas BPF, organize dados e fluxos e, a partir daí, avance para um programa robusto, com visão clara de perigos e pontos críticos. Com método, planejamento e base bem-feita, a certificação deixa de ser um bicho de sete cabeças e vira consequência natural da maturidade do seu sistema.


FAQ – Perguntas frequentes sobre HACCP

1. HACCP é obrigatório por lei em toda indústria de alimentos?
Depende do tipo de produto, processo e legislação específica. Mesmo quando não é explicitamente exigido, costuma ser solicitado por clientes e certificadoras.

2. Preciso ter BPF 100% redondas antes de pensar no sistema?
É altamente recomendável. Boas Práticas são a base que sustenta o programa. Sem elas, o trabalho fica frágil e cheio de remendos.

3. Um sistema certificado é muito mais caro de manter?
Ele exige disciplina e organização, mas tende a reduzir custos com retrabalho, devoluções, desperdícios e riscos de recall, trazendo retorno no médio prazo.

4. Quanto tempo leva para certificar?
Depende da maturidade atual. Empresas com BPF sólidas e registros bem estruturados avançam muito mais rápido do que quem ainda está no improviso.

5. Como começar se a diretoria acha que é “custo extra”?
Mostre riscos reais, exigências de clientes, oportunidades de mercado e exemplos de perdas evitadas em empresas que adotaram o sistema de forma estratégica.

Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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