Rastreabilidade não é só lote no rótulo: o que uma simulação de recall revela sobre seu sistema

Rastreabilidade de alimentos não é só lote no rótulo. Entenda como uma simulação de recall revela falhas e fortalece seu sistema de qualidade.

Quando falamos em rastreabilidade de alimentos, muita gente ainda pensa apenas em “ter um lote impresso no rótulo”. Parece suficiente… até o dia em que um cliente liga com um problema grave, você precisa simular um recall e descobre que o seu sistema não entrega as respostas que a auditoria quer ouvir.

Na minha experiência com qualidade e segurança de alimentos, o que mais vejo é justamente isso: empresas com rótulos bonitos, mas rastreabilidade fraca. E, em um cenário de fiscalizações mais rígidas e consumidores mais atentos, isso é uma dor de cabeça anunciada.


O que é rastreabilidade de alimentos de verdade?

Antes de falar de recall, precisamos alinhar o básico: o que é, de fato, rastreabilidade de alimentos?

De forma simples, é a capacidade de:

Saber de onde veio, por onde passou e para onde foi cada lote de produto, em tempo hábil para tomar decisão.

Na prática, isso significa:

  • Conseguir identificar matérias-primas, insumos e embalagens que compõem um lote.
  • Saber quais linhas e equipamentos foram usados no processamento.
  • Ter registros de datas, turnos, operadores, parâmetros críticos de processo.
  • Identificar clientes e mercados que receberam cada lote (e, às vezes, até em que data).

Perceba que o lote no rótulo é só a “ponta do iceberg”. O que sustenta a rastreabilidade de alimentos são os registros de BPF, produção, expedição e controles de processo.


Por que o lote no rótulo te dá uma falsa sensação de segurança

Colocar um lote no rótulo é relativamente fácil. O problema começa quando alguém pergunta:

  • “Quais matérias-primas foram usadas nesse lote?”
  • “Quais clientes receberam esse lote nos últimos 30 dias?”
  • “Se esse lote está com problema, quais outros lotes podem estar impactados pelo mesmo insumo ou processo?”

Se a resposta exigir:

  • caçar papeizinhos soltos,
  • abrir planilhas desconexas,
  • perguntar para ‘fulano’ que “sabe como é o fluxo”,

então o seu sistema de rastreabilidade de alimentos está frágil.

Sinais de rastreabilidade fraca

Alguns sintomas aparecem o tempo todo:

  • Registros preenchidos “só para cumprir tabela”;
  • Lotes de produção que não batem com lotes de expedição;
  • Falta de padrão de codificação entre áreas (produção, armazém, vendas);
  • Dificuldade de saber rapidamente a extensão do problema em uma simulação de recall.

Em resumo: a empresa até tem informações, mas elas não estão organizadas para responder às perguntas certas, na hora certa.


Simulação de recall: o raio-x da rastreabilidade de alimentos

Uma das ferramentas mais poderosas (e pouco usadas) é a simulação de recall. Ela é basicamente um “teste de estresse” do seu sistema de rastreabilidade de alimentos.

O que é uma simulação de recall?

É um exercício planejado em que você escolhe um lote (ou cenário) e simula a necessidade de retirá-lo do mercado, verificando se o sistema consegue:

  • Identificar rapidamente o lote na produção e no estoque;
  • Mapear todas as matérias-primas e insumos usados;
  • Listar todos os clientes que receberam aquele lote (data, quantidade, NF);
  • Definir quais outros lotes podem ter sido impactados.

Passos práticos para uma simulação de recall

Você pode estruturar esse teste em etapas bem claras:

  1. Definir o escopo do teste
    • Escolher um lote de produto acabado ou uma matéria-prima crítica.
  2. Levantar dados de produção
    • Em que dia foi produzido? Em qual linha? Em qual turno?
    • Quais lotes de matérias-primas e embalagens foram utilizados?
  3. Mapear distribuição
    • Quais clientes receberam esse lote?
    • Quais notas fiscais e datas de expedição?
  4. Mensurar tempo de resposta
    • Quanto tempo levou entre o “sinal de alerta” e a resposta completa?
    • Quantas pessoas foram envolvidas para montar o cenário?
  5. Registrar falhas e melhorias
    • Onde os dados estavam incompletos ou inconsistentes?
    • Que ajustes de registros, fluxo ou sistema são necessários?

No fim, o objetivo não é “passar na prova”, mas descobrir onde está frágil – enquanto ainda é um treino, não um caso real.


Mini estudo de caso: quando a simulação de recall expõe o gargalo

Em uma indústria de produtos cárneos, fizemos uma simulação de recall de um lote específico, motivada por uma auditoria de cliente.

O roteiro foi simples:

“Considerem que o lote X, produzido no dia Y, precisa ser rastreado e simulado para retirada do mercado. Quais clientes receberam? Quais matérias-primas foram usadas? Quais outros lotes podem ser afetados?”

O que aconteceu na prática?

  • O time demorou quase 4 horas para chegar a uma lista considerada “confiável”.
  • Alguns registros de produção não estavam legíveis ou estavam incompletos.
  • A codificação de lote de produto acabado não conversava bem com o padrão usado no estoque.
  • Havia divergência entre a planilha da Qualidade e o sistema de vendas.

A boa notícia:
A partir dessa simulação, a empresa percebeu que a rastreabilidade de alimentos era muito mais do que um requisito burocrático. Era um risco de negócio.

Foram definidos planos de ação focados em:

  • padronização de codificação;
  • ajustes em registros de BPF e produção;
  • treinamento da equipe;
  • revisão de integrações com o sistema de vendas.

Em poucos meses, uma nova simulação reduziu o tempo de resposta de 4 horas para menos de 40 minutos – com dados muito mais consistentes.


Como estruturar rastreabilidade de alimentos sem virar refém de planilhas

Muita gente trava porque acha que precisa, obrigatoriamente, de um grande software para ter rastreabilidade. Sistemas ajudam muito, claro. Mas, antes deles, é preciso ter processo.

Pilares para uma rastreabilidade eficiente

  • Codificação clara de lotes
    • Padrão único entre produção, estoque e comercial.
  • Registros mínimos, mas bem feitos
    • Ordens de produção, consumo de matérias-primas, apontamentos de linha, expedição.
  • Integração entre áreas
    • Qualidade, PCP, logística e vendas falando a mesma “língua de lote”.
  • Rotina de teste (simulação de recall)
    • Pelo menos 1 vez ao ano, ou sempre que houver grande mudança de processo/sistema.

Aqui entra um ponto importante: um bom programa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) já cria a base para uma rastreabilidade forte. Registros de recebimento, produção, limpeza, manutenção, tudo isso se conecta com rastreabilidade.

Ferramentas como o DOMINE BPF ajudam justamente a organizar essa base:

  • o que registrar,
  • com qual frequência,
  • em qual formato,
  • como transformar isso em evidência sólida para auditorias, incluindo simulações de recall.

Assim, em vez de viver apagando incêndio, você passa a ter um sistema que suporta decisões rápidas e seguras.


Conclusão: rastreabilidade é estratégia, não burocracia

No fim das contas, rastreabilidade de alimentos não é só um lote bonitinho no rótulo. É a capacidade da sua indústria de:

  • responder com agilidade em crises;
  • proteger o consumidor e a marca;
  • dialogar com clientes exigentes e certificações;
  • reduzir perdas e retrabalhos em situações de não conformidade.

Se você quer fortalecer seu sistema sem se perder em papéis e planilhas, comece revisando os registros de BPF, padrões de codificação e fluxo de informações. E, se fizer sentido, aprofunde-se em métodos estruturados como o DOMINE BPF, que organizam a base da segurança de alimentos e deixam a rastreabilidade muito mais robusta – na prática, não só no discurso.


FAQ – Perguntas frequentes sobre rastreabilidade de alimentos

1. O que é rastreabilidade de alimentos?
É a capacidade de saber de onde veio, por onde passou e para onde foi cada lote de produto, com informações suficientes para agir em casos de não conformidade ou recall.

2. Ter lote no rótulo já garante rastreabilidade?
Não. O lote é só o identificador visível. Sem registros de produção, consumo de matérias-primas, expedição e armazenamento, a rastreabilidade de alimentos fica incompleta.

3. Por que fazer simulação de recall?
Para testar, em um cenário controlado, se o seu sistema realmente funciona. Ela revela falhas de registro, integração e tempo de resposta que não aparecem no dia a dia.

4. Preciso de um software complexo para ter boa rastreabilidade?
Um bom sistema ajuda, mas não substitui processos bem definidos, padrões de codificação e registros consistentes. Primeiro arrume o processo, depois escolha a tecnologia.

5. Como o DOMINE BPF ajuda na rastreabilidade de alimentos?
Ao organizar rotinas, registros e responsabilidades de BPF, o DOMINE BPF cria uma base sólida de dados que facilita rastrear lotes, simular recall e responder a auditorias com segurança.

Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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