RDC 275 e as BPFs na indústria de alimentos: o que ninguém te conta sobre tirar o programa do papel

RDC 275 é a base das boas práticas de fabricação na indústria de alimentos.

Quando a gente fala em RDC 275, muita indústria de alimentos já sente aquele frio na barriga: checklists enormes, equipe resistente à mudança e auditoria batendo à porta. Mas, na prática, o que derruba as empresas não é a resolução em si – é a dificuldade de tirar o programa de BPF do papel e transformá-lo em rotina viva dentro da fábrica.

Ao longo da minha experiência com qualidade, segurança de alimentos e auditorias, o que mais vejo são fábricas com documentos impecáveis na gaveta… e Boas Práticas de Fabricação que não aparecem no dia a dia. É exatamente esse abismo entre “o que a resolução 275 exige” e “o que realmente acontece na produção” que vamos abordar aqui.


O que é a RDC 275 e por que ela é tão importante para as BPF

A Resolução 275 é uma resolução da ANVISA que estabelece o regulamento técnico de Boas Práticas de Fabricação na indústria de alimentos. Ela traz:

  • Checklists de verificação para inspeções sanitárias;
  • Diretrizes para elaboração, implantação e monitoramento de BPF;
  • Foco direto em segurança de alimentos e controle de riscos.

Em termos simples, ela responde a uma pergunta central:

“Sua fábrica tem condições reais de produzir alimentos seguros, de forma consistente?”

Mais do que “cumprir a lei”, a resolução é o mínimo para uma indústria que quer:

  • reduzir risco sanitário,
  • evitar autuações e interdições,
  • ganhar confiança de clientes e certificadoras.

Onde as empresas travam na RDC 275

O que vejo nas empresas é que o problema raramente está em “não saber” o que é BPF. A maioria já ouviu falar de:

  • higienização,
  • controle de pragas,
  • água potável,
  • manipulação segura,
  • layout adequado.

O ponto crítico está em como organizar tudo isso de um jeito que caiba na rotina real de produção.

Erros comuns ao tentar implantar a Resolução 275

Alguns padrões se repetem em praticamente toda fábrica que está apanhando das Boas Práticas:

  • Tentar implantar tudo de uma vez: gera caos, sobrecarga e frustração.
  • Copiar modelos prontos da internet sem adaptar à realidade da planta.
  • Focar só em papel (MBPF, POPs, registros) e esquecer o chão de fábrica.
  • Treinamento só teórico, sem conectar o conteúdo com os riscos reais da linha.
  • Falta de priorização de risco: gastam tempo com detalhes estéticos e deixam água, pragas e higiene de lado.

Na prática, o resultado é um sistema pesado, que ninguém quer usar e que não se sustenta em uma auditoria minimamente séria.


Entendendo a lógica da Resolução 275: processo, risco e evidência

Para sair do “modo sobrevivência”, é preciso mudar a forma de olhar para essa resolução.

1. Olhar de processo, não de checklist

Em vez de começar marcando “sim/não” no checklist, recomendo olhar para a fábrica como um fluxo:

  1. Matéria-prima entra
  2. Passa por etapas de processamento
  3. É embalada
  4. É armazenada e distribuída

Em cada uma dessas etapas, a pergunta é:

“Quais perigos podem comprometer a segurança do alimento aqui – e o que a Resolução 275 exige para controlar isso?”

2. Risco primeiro, detalhes depois

Na minha experiência, a ordem prática de priorização é:

  • Água e gelo;
  • Higienização de instalações e equipamentos;
  • Higiene e uniformização de manipuladores;
  • Controle de pragas;
  • Resíduos e fluxo de materiais;
  • Estrutura física (piso, parede, teto, portas, janelas e layout).

Sem isso minimamente controlado, qualquer POP ou MBPF vira “enfeite”.

3. Evidência: se não está registrado, não aconteceu

A Resolução 275 é aplicada na prática por meio de evidências:

  • registros de limpeza,
  • planilhas de monitoramento,
  • laudos de potabilidade,
  • relatórios de controle de pragas,
  • checklists de verificação.

Mas aqui está um ponto-chave:

Registro bom é aquele que nasce do processo, e não o contrário.

Ou seja, primeiro se desenha uma rotina que funcione. Depois se cria um registro simples, que a equipe consiga preencher sem “odeio papelada”.


Mini estudo de caso: quando a BPF sai da gaveta

Imagine uma pequena fábrica de salgados congelados.

Ela estava com:

  • muitos apontamentos da vigilância sanitária,
  • reclamações de clientes por corpo estranho,
  • equipe resistente a qualquer mudança.

Ao aplicar um trabalho estruturado com foco nessa resolução e em Boas Práticas de Fabricação, fizemos assim:

  1. Mapeamos os pontos mais críticos: água, higiene de manipuladores, limpeza de mesas e equipamentos.
  2. Implantamos rotinas simples:
    • cronograma de higienização por turno,
    • checklist rápido de higiene pessoal na troca de uniforme,
    • controle visual de limpeza de bandejas e formas.
  3. Criamos registros enxutos, de no máximo 1 minuto para preencher.
  4. Treinamos a equipe na linguagem deles, mostrando fotos reais da própria fábrica e relacionando com reclamações de clientes.

Resultado em poucos meses:

  • Queda drástica de reclamações;
  • Auditoria da vigilância muito mais tranquila;
  • Time entendendo “o porquê” e não só o “porque tem que fazer”.

Isso é a resolução aplicada na prática, e não só como um documento que aparece no dia da inspeção.


Método em fases: o atalho inteligente para a RDC 275

Uma das formas mais eficientes que encontrei para tirar as BPF do papel é trabalhar em fases, em vez de atacar tudo ao mesmo tempo.

Fase 1 – Ações imediatas e críticas

Foco no que impede a indústria de operar com segurança:

  • qualidade da água;
  • higienização básica;
  • manipuladores (uniformes, EPIs, hábitos de higiene);
  • controle de resíduos;
  • combate a pragas.

É aqui que o risco sanitário cai rapidamente e a fábrica já sente diferença no dia a dia.

Fase 2 – Organizar fluxo e estrutura

Com o básico controlado, o passo seguinte é arrumar a “casa”:

  • piso, parede, teto, portas, janelas;
  • ventilação e climatização;
  • fluxo de pessoas, matérias-primas e produtos;
  • áreas separadas por nível de risco;
  • armazenamento adequado.

Essa fase dá “cara de indústria séria” para a fábrica – e reflete diretamente na percepção do auditor.

Fase 3 – Manutenção e consolidação

Só depois de ajustar risco e estrutura é que entram:

  • POPs completos,
  • Manual de BPF,
  • planos de auditoria interna,
  • laudos de verificação,
  • rotinas de revisão de documentação.

É aqui que o sistema ganha sustentabilidade: não depende de uma única pessoa e não entra em colapso a cada turn over na equipe.

Essa lógica em fases é a base do método DOMINE BPF, que organiza a implantação em etapas inteligentes e oferece cronograma semanal, planilhas de fases, checklist completo, modelo de auditoria e tabelas de acompanhamento, transformando a Resolução 275 em tarefas objetivas e aplicáveis no dia a dia.


DOMINE BPF: quando o programa deixa de ser teórico

Se você sente que:

  • está sempre “apagando incêndio” com a vigilância;
  • tem MBPF e POPs, mas a equipe não aplica;
  • a Resolução parece um “monstro” distante da realidade da sua linha,

o problema não é a sua fábrica – é a forma como o programa foi estruturado.

O DOMINE BPF foi justamente pensado para:

  • separar o que é prioridade imediata do que pode ser feito depois;
  • traduzir a legislação em um passo a passo visual e prático;
  • reduzir o tempo de implementação de meses para semanas;
  • dar visão sistêmica para o gestor, mas execução simples para o time.

Se você quer uma implantação de BPF sem complicação, com foco em resultados reais, vale conhecer o método mais a fundo e avaliar como ele se encaixa na sua realidade.


Conclusão: a Resolução 275 não é vilã – o improviso é

Ela não foi feita para complicar a vida da indústria; ela existe para garantir que quem produz alimento tenha responsabilidade sobre o que coloca na mesa das pessoas.

Quando você:

  • enxerga a norma com olhar de processo,
  • prioriza risco,
  • trabalha em fases,
  • cria evidências simples e funcionais,

as Boas Práticas de Fabricação deixam de ser um peso e passam a ser um diferencial competitivo.

Se você quer dar o próximo passo, organizar seu programa de BPF com clareza e segurança, comece revisando seu cenário atual e, se fizer sentido, aprofunde-se no DOMINE BPF para transformar essa Resolução em uma aliada – não em uma ameaça.


FAQ – Perguntas frequentes sobre Resolução 275 e BPF

1. O que é a Resolução 275 na prática?
Ela é a resolução da ANVISA que define critérios de Boas Práticas de Fabricação e fornece checklists para avaliar se a indústria de alimentos garante segurança de alimentos de forma consistente.

2. Toda indústria de alimentos precisa atender à Resolução 275?
Sim. Qualquer estabelecimento que produza alimentos sob fiscalização sanitária precisa atender aos princípios da resolução e comprovar isso em auditorias e inspeções.

3. Resolução 275 é a mesma coisa que BPF?
Não exatamente. A Resolução é a norma que estabelece requisitos e forma de verificação. As BPF são o conjunto de práticas, rotinas e controles que a indústria implanta para cumprir a norma e garantir segurança de alimentos.

4. Por onde começar a implantação da RDC 275?
Na prática, comece pelos riscos críticos: água, higienização, manipuladores, pragas e resíduos. Depois, avance para estrutura física e, só então, para POPs, MBPF e registros mais complexos.

5. O DOMINE BPF substitui a RDC 275?
Não. A Resolução continua sendo a base legal. O DOMINE BPF é um método que organiza a implantação das Boas Práticas de Fabricação em fases e ferramentas práticas, facilitando o cumprimento da norma e a preparação para auditorias.

Te convido agora a ler um artigo muito interessante: HACCP (APPCC) na prática: como montar um plano enxuto que realmente funciona no chão de fábrica.

Suelen Felizardo é Engenheira de Alimentos, Certificada Supervisora de Serviços de Alimentação e Segurança de Alimentos (SENAI – ABNT NBR 15048) e especialista Green Belt Lean Six Sigma. Possui mais de 10 anos de experiência em gestão da qualidade na indústria de alimentos, atuando com segurança de alimentos, BPF, APPCC/HACCP, auditorias internas e externas e implantação de sistemas como ISO e FSSC 22000. Na prática, Suelen traduz normas e requisitos técnicos em rotinas simples e aplicáveis no chão de fábrica, ajudando empresas a estruturarem processos, reduzirem não conformidades e se prepararem para auditorias de clientes e órgãos reguladores sem travar a operação. Se a sua indústria precisa organizar a qualidade, fortalecer a segurança de alimentos e ganhar eficiência, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação e a melhoria contínua do seu sistema de gestão. Se você quer reduzir não conformidades, se preparar para auditorias e ter processos mais seguros e enxutos, acompanhe os conteúdos e considere contratar a Suelen para apoiar a estruturação da qualidade na sua indústria.

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